domingo, 29 de novembro de 2020

 eu não me sinto sempre bem e quando o sol rasga meus olhos de manhã eu faço nada a não ser chorar

eu posso querer ser alegria e em alguns dias ser as nuvens e o vento


mas tem manhãs que sou o mofo

sou o céu cinzento após um desastre

permaneço inerte após a infusão de sentimentos como se tivesse não te beijado pela primeira vez


sofro em meu coração quando o de dentro distoa do de fora

a cor na tela de minha vida é infinita

com tons alegres e vibrantes como o brilho nos olhos de um louco apaixonado


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

De gole em gole
Percorro cada viela deste plano sequencia
Germinando as cores de minhalma
desbotadas pela chuva e pelo tempo.

A cerejeira da praça não da frutos
e lamenta
suavemente
O fim de cada estação fugaz.

Descolar as lembranças de um tempo torto
É deixar que o novo vento, mais leve,
leve o vento morto.

É transformar,
em breve,
O árido infrutifero
Em evento corrente.





O eclipse se foi com a aurora
e já sem hora
se vai o sofrimento de outrora.

domingo, 31 de julho de 2016

As vezes eu tenho a impressão de que as coisas não estão realmente acontecendo. Que se eu olhar pela janela agora, num instante mais rápido que um piscar de olhos, o grande olho vai estar observando. E ele constantemente está. Mas tudo isso não passa duma introspecção sem valor nenhum. Afinal, eu sangro. E as vezes a gente se esquece disso. Nenhum monologo faz sentido se você está realmente sozinho. As palavras rebatem na parede e deixam você lento, com o olhar distante. Lendo uma página do mundo em língua ininteligível e irracional. Aquele momento de loucura lucida separado pela mesma linha tênue que distingue uma noite de luar de junho do som dos pássaros pela manhã.

De todo instante vivido se vale o lirismo nos momentos de transformação. A nova poesia é estiagem morta encharcada com novos souvenires. É como o inverno chegando a todo momento durante o outono, que por sua vez lembra o perecer das estações vivas do verão e da primavera. Que as mudanças carregam lembranças de um presente morto, não há dúvida.

Em novos tempos, o relógio dos velhos desperta adiantado.
em noites enevoadas
no boqueirao
paisagens transformam-se em sombras e vibrações
enquanto o acelerado compasso do coração enfermo
pulsa como se fosse a última vez!

um traço...
um risco -!
ou outro vulto meio torto,
impulsionam a velocidade de meus movimentos.

não sei o que encontrarei a minha frente
tenho medo e quando decido não voltar
minha marcha torna-se aos poucos funebre
e o estomago acido
desvia o olhar afiado.

mas olhar para trás: jamais!
infesto o véu da noite
com a dança funesta de meus passos
mas olhar para trás nunca!
 todos sabem
que para trás
deixamos tudo que tinha de passar.

domingo, 20 de março de 2016

No onibus a luz queimada
Denuncia uma Curitiba afogada em sombras

A gritaria ansiosa dos gatos de sexta a noite
É a estreia de mais um capitulo maldito
Em que o mundo acaba em lua nova
Alargado em tempo magro
Nas ruas largas do largo

As luzes da rua passam silenciosas e sombrias
aqui e acolá
Iluminando obstinados detetives
Que procuram  no chão as rachaduras da onde emanam
As erupções da vida

Meio céu
Meia lua
Meia cria
Meia dose
Nos olhos perdidos no espaço tempo do cansaço
Encontro em linhas vermelhas salgadas
Apenas mais duvidas
A cada passo dado.

A vastidão implica em passos curtos vacilantes.
Que seria do mundo sem a coragem da criança?

Forças etéreas que mudam as estações,
abençoa teu filho da filosofia
com a paixão do desabrochar das flores.

O reflexo invertido
de distância dobrada
abre e fecha as obras de meu peito.

O mudo e o surdo
jogam xadrez de luzes apagadas
enquanto a loucura acaricia suas faces com unhas cumpridas e tortas.

Dos cortes vaza sangue azul
Preto
Vermelho
de paixões esquecidas.

Voar e entender o vento...
Onde foi deixada a memória
do mochileiro filho de lobos da estepe?

Vicio
Raiva que consome as lentes de minhalma.
Me deixa fraco a transfusão e hemodiálise dos olhares.

Envolvente
O coração bate soproso e a cada dia
Perco as firmes mãos da loucura lucida.

Salva meus irmãos
Meu Deus através do espelho.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Todo dia 7 da manhã
As luzes piscam.
Essas duas luzes que iluminam o salão

Gritam cansadas o ritmo do trabalho que ja está feito.
Vai.
Corre livre pelo campo
Puxa a teta das vacas
Arde teu pelo nos corais da enseada!

Observo-te aqui de cima
Não sou Deus.
Se um segredo meu
Fizer de volta um teu
lhe digo:

Aqui em cima
O mundo
É dos números.

Aproveita a dádiva do teu olhar menino
Pois quando chega o inquilino
O demonio da luz negra
Só se faz cobrar as obras.

Ele derruba
impiedoso fugaz e fútil
Tuas lamparinas na noite escura.
Cutuca teu pé no sono
Com a caneta de escrever o mundo.

Menino
Aproveita a indecencia
Das tuas atitudes vãs

Pois um dia ao acordar
Já vais estar velho
Eu noutro lugar e tu aqui no meu

E entao vai aprender que para correr
Terá sempre de desacorrentar
As asas da tua imaginação.

Teu ar
será rarefeito.

E em brasa
Terá de ser feito
Do teu mundo
Mundo vasto mundo
Das estrelas ao último grão no chão

tua casa.